20 de Novembro comemora-se, O Dia Nacional da Consciência Negra, uma data valiosa para os brasileiros e as brasileiras. Desde o ano de 2011, a Lei nº 12.519 institui mais que uma data comemorativa, um evento protagonista de várias reflexões relevantes na construção da identidade do povo brasileiro, na valorização da diversidade cultural e no combate ao preconceito que, infelizmente, afeta as relações humanas nos mais diversificados contextos geográficos.

 

Recordo-me de uma frase de um cantor conhecido por uma multidão de pessoas: “Não preciso ter ambições. Só tem uma coisa que eu quero muito: que a humanidade viva unida... negros e brancos todos juntos” (Bob Marley). Nessa data, independente do grupo étnico, torna-se essencial refletir o significado do respeito as heranças culturais que permeiam o solo brasileiro e de reconhecer também nas diferenças, sejam de cores ou jeitos, oportunidades de diálogo.

Permita-se um pouco do seu tempo, para ler, sentir e perceber, “Uma Carta de Agradecimento”. Por Flávio Braga:

A minha trajetória, por mais que seja a de um pacato professor de História, é agradecendo a todos vocês. A todos vocês que tiveram sua liberdade surrupiada e atravessaram um oceano a força. Que chegaram numa terra completamente estranha na condição de escravos, mas que apesar de todas as dificuldades, sobreviveram. Sobreviveram e souberam transportar um pouco de seus costumes adiante, mesmo com grande perseguição. A todos vocês que, mesmo livres pela Lei Áurea, tiveram que suportar outras provações pelas quais qualquer população marginalizada passa. A todos vocês que fizeram o samba, a capoeira, as religiões afro-brasileiras serem patrimônio imaterial do povo brasileiro, como outras contribuições importantes de pessoas vindas de todos os cantos do mundo e ajudaram, assim, o brasil ser Brasil.  A todos vocês, pais, que sempre colocaram na nossa cabeça que o céu é o limite. E que não seria a cor da nossa pele que definiria nosso futuro. A todos vocês minha eterna gratidão por ajudar a levantar nossas cabeças para encararmos o mundo com a força de um leão. A todos os irmãos que compartilham da sua trajetória de sucesso aos irmãos mais novos. Aos irmãos que saíram do nada e conquistaram o mundo, sendo exemplo para todos. Que enquanto os outros falavam (e ainda falam) que não tínhamos condições de fazer uma faculdade, vocês comeram pelas beiradas e hoje são mestres, doutores, pós-doc! Obrigado pela determinação e coragem. A todas as crianças e jovens negros, que renovam minhas esperanças em dias melhores para nós. Vocês são de uma ousadia e de uma alegria que contagia qualquer um. Que vocês sejam determinados e ganhem o mundo e provem a todo o mundo que, vindo de onde muitos de nós vem, tem muito mais coisas e pessoas boas do que coisas ruins e pessoas ruins. Vocês podem. A todos que são sensíveis a nossa luta. Vocês sabem que não queremos ser melhores, que não queremos privilégios. Vocês sabem que, mesmo com tanta coisa para acertar, as brechas que surgiram para a gente nos últimos anos se revelaram um caminho de salvação e de esperança de dias melhores para muitos de nós. Tenho certeza que sem a ajuda de vocês a luta seria ainda mais árdua do que ainda é. A Nelson Mandela, Malcolm X, Bob Marley, Martin Luther King, aos Panteras Negras e a tantos outros estrangeiros irmãos de luta que nos inspiravam ontem, inspiram hoje e sempre serão inspiração. A Zumbi, a Cartola, a Luis Gama, a Nei Lopes, a Lima Barreto, a Adhemar Ferreira da Silva, a Abdias Nascimento, a Emicida, a Milton Gonçalves, (...) e tantos outros, famosos ou anônimos, mas igualmente inspiradores.

A todos que bradam a plenos pulmões que preto é lindo. Nem mais, nem menos do que branco, indígena, oriental, mestiço. Apenas bonito por suas singularidades, como deve ser. Orgulhem-se disso! 

Sidnei Budke

Pastoral Escolar e Universitária

CFJL - FAHOR