O que é, afinal, a Rede Sinodal de Educação?

O Luterismo veio para o sul do país com a imigração alemã ocorrida a partir de 1824. A imigração instituída pelo Império tinha o objetivo de ocupar território, defender fronteiras e impulsionar a economia que, no Rio Grande do Sul, se baseava, então, essencialmente nas charqueadas. A contrapartida do governo imperial seria feita mediante a destinação de terras e o suprimento de ferramentas e sementes. Em Santa Catarina, a ocupação do Vale do Itajaí foi uma empreitada privada, iniciada em 1850.

A religião oficial do Império era a Católica Romana. Os imigrantes – a maioria luterana – passaram a praticar sua fé sob a égide da tolerância. O culto luterano não era admitido, mas era tolerado, desde que a casa de culto não tivesse sinal externo que a identificasse com um templo: cruz, torre ou sino.

Os imigrantes estavam habituados, em sua terra de origem, à existência de um sistema escolar já bastante satisfatório. Além disso, dois outros elementos compareciam com importância fundamental para compreender o desenvolvimento escolar por eles empreendido. O papel da língua alemã como definidora de identidade e a livre interpretação das Escrituras para a qual se exigia a capacidade de ler.

Mesmo que as crônicas da época registrem inúmeras vozes reclamando a falta de escolas imperiais na Colônia, elas não foram instaladas. Em consequência, os próprios colonos se organizaram, criaram e sustentaram as suas escolas. O fato de os templos não poderem ter aspecto exterior que os identificasse como tais colaborou também: edificarem-se escolas e não igrejas, que nos domingos abrigavam os cultos. Os pastores – vieram alguns poucos – serviam de professores; no demais, os colonos escolhidos como professores serviam também de pastores. É muito interessante nesse particular, observar os critérios que eram utilizados para escolher os professores. Normalmente, professor era aquele que, ou tivesse a melhor letra, ou não tivesse força para trabalhar no eito, na roça.

Multiplicaram-se as escolas e não só as luteranas, mas também as escolas paroquiais católicas de língua alemã. A diferença fundamental no desenvolvimento das escolas paroquiais católicas e das escolas paroquiais luteranas, é que as católicas foram, ou desde logo ou pouco tempo após, assumidas pelas ordens religiosas católicas que passaram a administrá-las. Com isso as escolas paroquiais católicas se desvincularam da comunidade local, na medida em que possuíam uma linha de administração em geral estranha ou, pelo menos, exterior à comunidade, já que as orientações vinham da sede da ordem religiosa, enquanto que as escolas luteranas permaneceram ligadas e administradas pela comunidade local.

Quando do cinquentenário da imigração, 1874, havia mais de 200 escolas paroquiais evangélico-luteranas. No centenário, 1924, eram 413.

O ensino nessas escolas era feito em língua alemã. A língua teve uma importância capital na formação do estado germânico, pois foi em torno dela que esse Estado foi erigido. Como, do ponto de vista político, a posição do imperador alemão em relação aos príncipes dos Estados era muito frágil para manter uma unidade, essa unidade foi construída em torno da língua alemã. Dessa forma, a definição da cidadania alemã estava baseada em critérios linguísticos e não territoriais.  

Esse fato permite compreender por que, no Brasil, se mantiveram tão fortes os laços com a terra de origem – os colonos eram brasileiros, porque residiam no Brasil e eram alemães, por que falavam a língua alemã. Ao se constituir aqui a primeira Igreja Luterana, o Sínodo Rio-grandense, ela se definiu como uma Igreja do povo, na expressão alemã, uma Volkskirche, que, por isso, só podia ter como língua oficial o alemão, já que essa era a língua desse povo.

A escola, portanto, surgiu para suprir essa tripla necessidade:

     a)Devia haver escolas, como na Alemanha;

     b)Ler era um imperativo para o exército do sacerdócio universal dos crentes e

     c)A aprendizagem da língua era elemento de identidade ética e de cidadania.

Não está na motivação básica para o surgimento da rede de escolas luteranas o fazer missão, a catequese. Há uma resolução do Sínodo Rio-grandense, em Concílio, em 1924, determinado que só fossem admitidos ao ensino confirmatório os candidatos alfabetizados. A igreja queria que a escola alfabetizasse; a catequese ela própria a faria. Da mesma forma, na sua imensa maioria (poderiam ser excluídas três), essas escolas não foram criadas por iniciativa da autoridade eclesiástica, como indicativo de uma “política educacional da Igreja”. Elas surgiram sempre da decisão da comunidade reunida em assembleia. É essa mesma assembleia que as administra por meio de Diretorias eleitas ou indicadas. São, portanto, escolas orientadas e dirigidas por leigos. Os poucos pastores envolvidos nessa atividade não chegam a fazer diferença, no essencial. Também por isso não são escolas voltadas para a catequese.

Essa vinculação direta, escola/comunidade, tem sido vital. As únicas experiências que nós temos feito, no sentido inverso, isto é, de procurar construir igreja local a partir de uma escola, fazendo dela, escola, instrumento missionário, foram totalmente frustradas. Não parece fazer parte da vocação da IECLB a evangelização de expansão.

A primária referência que se tem, a respeito de uma “rede de escolas luteranas”, data de 1912, ano em que se criou um “Departamento de Educação” que, no entanto, parece não ter vingado. É com o Estado Novo, de Getúlio Vargas, a partir de 1937 que entra em cena, novamente um “Departamento de Ensino”, agora do Sínodo Rio-grandense. Ocorre que com a proibição do ensino em língua alemã e com a determinação de que os professores deveriam ser brasileiros, foi necessário assessorar as escolas na sua “legalização” e no provimento de docentes. Esse Departamento de Ensino entedia, tão somente, as escolas primárias (o equivalente ao atual Ensino Fundamental de 1º a 5º ano).

Após a 2ª Guerra Mundial – que terminou em 1945 – começou o processo de transformação de escolas primárias em Ginásios e Colégios. Em 1952, os Diretores desses ginásios e colégios se reuniram num “Centro de Diretores de Estabelecimentos de Ensino Secundário – CDEES”, para passar a tratar do interesse dessas escolas, até então desatendidas pelo Departamento de Ensino. Realizaram o primeiro Congresso de Professores (Colégio Sinodal, São Leopoldo, 1953) e decidiram realizar olimpíadas estudantis (1954).

O Centro de Diretores – como passou informalmente a ser chamado – reunia-se anualmente em Assembleia para tratar dos assuntos em comum, Dessa forma, as escolas passaram a ter elementos que as irmanavam, como, por exemplo, uma política salarial e um programa de bolsas de estudos para formação de professores. A Presidência das Assembleias era rotativa e o trabalho era coordenado por um Secretário-Geral, não remunerado, escolhido dentre os Diretores.

Em 1962 o Sínodo Rio-grandense institui um conselho de Educação, destinado a assessorar a Diretoria em assuntos escolares. Esse Conselho tinha concepções bastante avançadas para a época, tanto que foi a primeira a falar em um “sistema sinodal de ensino”. Esse sistema de ensino deveria ser provido de professores, mas só havia agência de formação na região metropolitana, em São Leopoldo em Novo Hamburgo. Outras regiões foram motivadas a criar escolas de formação de professores: A “Escola Normal Rural Presidente Getúlio Vargas” de Três de Maio possivelmente, em São Pedro do Sul, não chegou a ser criada.

Em 1968, ano em que o Conselho de Educação se reuniu pela última vez, os diversos Sínodos existentes no país – e que já haviam se reunido numa Federação Sinodal – decidiram juntar-se de vez, constituindo a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. O país foi dividido em Regiões Eclesiásticas, não coincidentes com os territórios dos Sínodos. Assim, o que fora o Sínodo Rio-grandense, transformou-se nas Regiões Eclesiástica III e IV. O Departamento de Ensino ficou, inicialmente, vinculada à Região Eclesiástica IV, mas como ele também atendia a Região III, aquela Região decidiu que não arcaria com a despesa sozinha. Tentou-se a instalação de um Departamento de Ensino em Panambi, sede daquela Região, mas não vingou por uma série de razões.

O Centro de Diretores resolveu intervir no processo e assumiu os custos, passando a remunerar seu Secretário-Geral, agora não mais um Diretor, mas uma pessoa com tempo integral, que passou a acumular as funções do Diretor do Departamento de Ensino. Na nova configuração, o setor mudou a denominação para Departamento de Educação, englobando as funções o Departamento de Ensino e da Secretaria Geral do CDEES, então já CDEME – Centro de Diretores de Estabelecimentos de Ensino Médio Evangélicos.

Durante vinte anos o Departamento de educação intermediu bolsas de estudos, com recursos do Salário Educação, para alunos do ensino fundamental, o que foi essencial para a sobrevida das pequenas escolas. Aos poucos foi se tornando evidente que as escolas maiores precisavam de maior atenção e, em 1981, optou-se por uma reorganização do Departamento, dando-lhe a atual configuração.

Com a aprovação, no início de 1982, do 1º Programa de Trabalho, inicia um período de intensa atividade entre as escolas, através de Seminários de Diretores e Encontros de Professores. Os encontros tinham como finalidade principal construir a ideia de rede, de pertença a um projeto comum. Só subsidiariamente tinham como finalidade a atualização e o aperfeiçoamento. Intensificou-se da mesma forma, a atividade com os alunos que, além da Olimpíada, passaram se reunir em encontros de grêmios estudantis, teatro, música, canto coral e desenvolvimento de lideranças. 

Uma grande preocupação era a formação de lideranças para a direção das escolas. Num país que não sabe entender que a direção de uma escola deve ser exercitada profissionalmente e não de forma improvisada, faltavam oportunidades para a especialização. Pioneiramente, o Departamento de Educação firmou convênio com a FEEVALE, de Novo Hamburgo, patrocinando um curso de pós-graduação lato sensu – Especialização – para formação de diretores. Antecipando necessidades futuras, a convite, participavam desses cursos – foram vários – professores que demonstravam características de liderança, vindo, muitos deles a assumir escolas, mais tarde.

A Rede Sinodal de Educação, hoje, é resultado desse esforço de construção de uma imagem de unidade – sem uniformidade -, de colaboração e solidariedade mútua e de busca responsável por uma educação de qualidade.

Saiba mais: http://www.redesinodal.com.br

 

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